Lígia inicia gestão para o mandato de 2024 a 2026
Neste 2024 o Crea-SP completará 90 anos de história, mas esse não é o único marco do período, pois, além disso, também é quando a primeira mulher eleita assume a Presidência da autarquia. A engenheira civil Lígia Marta Mackey venceu as eleições, no ano passado, com 65% dos votos e ingressou, a partir do dia 1º de janeiro, no maior posto da área tecnológica paulista para o triênio de 2024 a 2026.
Lígia foi diretora de Entidades de Classe, em 2023, e vice-presidente do Conselho, em 2022, chegando a assumir como presidente em exercício por seis meses quando seu antecessor, o Eng. Vinicius Marchese, precisou se licenciar. Para a nova gestão, ela faz planos de continuidade da cultura de inovação e avanço em iniciativas de diversidade, como o Programa Mulher. Os detalhes, a engenheira conta em entrevista a seguir. Confira.
Como você se sente em assumir a Presidência do maior conselho de classe da América Latina?
Estou bastante emocionada. Desde as eleições, em novembro, me sinto constantemente honrada e grata. Sei que o desafio não é pequeno, pelo contrário, estamos falando de um universo de 350 mil profissionais e 95 mil empresas. Mas, depois de 30 anos de carreira, entre a construção civil, o associativismo e a integração com o Sistema Confea/Crea, estou certa de que não há momento melhor. Me sinto pronta para lutar pelas nossas profissões.
Você citou os 30 anos de carreira, como foram?
Na verdade, é até um pouco mais que isso se contar a faculdade. Entrei para a Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP) em 1988. Antes disso, havia pensado em fazer Arquitetura, mas duas aprovações no curso de Engenharia me levaram para este outro caminho e ainda bem. Comecei a cursar e vi que era aquilo que eu queria. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa, gosto de projetos, gosto das obras. A Engenharia não é só minha profissão, é meu modo de vida.
Havia muito preconceito naquela época?
Infelizmente, sim. Se as mulheres, apesar de serem maioria na sociedade, ainda são minoria na área tecnológica hoje, dá para imaginar que há três décadas atrás o ambiente não era exatamente receptivo. Éramos apenas 15 mulheres em uma turma de 120 alunos. Em algumas aulas, só tinha eu de mulher. Fui a quinta engenheira formada da minha cidade, Rio Claro. Depois de formada ainda foi difícil conquistar espaço. Onde eu chegava, era questionada. Precisei ser bastante firme e persistente para conseguir trabalhar.
Como sua família via isso? Teve apoio deles?
Tenho apoio até hoje e isso fez total diferença para mim. Sou a única mulher entre três filhos. Meus dois irmãos e meus pais não só me apoiaram, como estavam ao meu lado sempre que precisei. Fui a primeira na família a ingressar na Engenharia, mas depois de mim alguns primos também entraram na área. Penso que minha história pode ter inspirado um pouco.
Quais as principais dificuldades que encontrou no mercado de trabalho e o que fez para lidar com elas?
Tirando a questão do machismo, o mercado da construção civil pode ser desafiador de muitas formas, mas é o que mais gosto. Estar na obra, vendo o projeto evoluir, diagnosticar e corrigir eventuais problemas, e, no final de tudo, entregar o sonho de alguém pronto faz valer a pena cada obstáculo que surge no caminho. Para mim, que sempre me dediquei à carreira, é uma verdadeira paixão. Ainda que haja pessoas que duvidem ou até desacreditem de uma mulher em um canteiro de obras, o trabalho exige de qualquer profissional um envolvimento e compromisso constante no estudo do local da construção, desenho do projeto e adaptações necessárias, ouvir as demandas e desejos do cliente, escolha das melhores opções de materiais e acabamentos. Tudo depende da entrega do engenheiro e é essa entrega faz com que o resultado final seja positivo ou não. Não é simples lidar com tudo isso ao mesmo tempo, mas se tem uma coisa que pode ajudar, com certeza é a capacitação contínua. Não saímos da universidade prontos e, para falar a verdade, nunca deixaremos de ter algo novo a aprender.
Essa é uma dica importante para quem está ingressando na área tecnológica?
Sem dúvida. A capacitação é o que nos prepara para as transformações que acontecem diariamente. Sei que em muitas profissões é assim também, mas nas Engenharias, Agronomia e Geociências é mandatório continuar a estudar. O nosso mercado é extremamente dinâmico e impactado pelas tecnologias que vão surgindo, tecnologias que são criadas por nós mesmos para facilitar nossos trabalhos e gerar mais eficiência. O que diferencia um profissional hoje é a capacidade cognitiva, o pensamento analítico e o interesse em inovar. Portanto, a minha dica é essa: estude. Busque aquilo que te fará se destacar.
Como o Crea-SP pode apoiar nisso?
São diversos os programas que temos e que amplificaremos para alcançar cada vez mais engenheiros, agrônomos, geocientistas e tecnólogos e ajudá-los em seus processos de desenvolvimento profissional. O Crea-SP Capacita é um deles, com cursos gratuitos ou a custos especiais, on-line ou presencial, que traz os temas mais atuais ao alcance de todos. A capacitação não precisa ser difícil ou cara para o profissional, ela está aqui, no nosso Conselho. Outra opção são os coworkings da rede CreaLab, uma rede que já chegou em 25 unidades espalhadas pelo Estado e que estimularemos a crescer, conectando profissionais, entidades de classe, estudantes e municípios.
A sua relação com o Sistema Confea/Crea começou em uma entidade de classe também, certo?
Sim! Foi pela Associação de Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Geologia de Rio Claro (AERC), onde fui presidente e me tornei conselheira. Os coworkings são um atrativo para que os profissionais conheçam as associações de suas cidades, porque é nesses espaços que a aproximação com o Sistema acontece.
O que mais os profissionais podem esperar da sua gestão?
Crescimento, inovação, empreendedorismo e desenvolvimento. Essas são as palavras que tenho usado e que nos nortearão nos próximos anos para seguir fazendo do Crea-SP a plataforma de serviços completa dos profissionais da área tecnológica e uma referência no setor público. Diminuir os obstáculos para que mais mulheres ingressem nas profissões da área tecnológica e para que o nosso Sistema seja mais diverso e equitativo em termos de gênero também está entre as minhas metas e, com o Programa Mulher, sei que chegaremos lá.